terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Olha que educadinha

Há algum tempo, num belo fim de semana me aconteceu uma cena no mínimo constrangedora dentro de um dos confortáveis, cheirosos e espaçosos ônibus que circulam por São Paulo, vou contar resumidamente:

Estava eu, em pé, cheia de cadernos nas mãos, bolsa, salto alto e sapato machucando, enfim, com uma louca vontade de chegar em casa, pois estava voltando da faculdade, estava dentro do magnífico Terminal Capelinha, lembro também que eu estava bem próxima da janela, exatamente naquele vão que é "reservado" para os cadeirantes.
Na minha frente, havia uma moça, aparentando seus 17 anos, de calça jeans, tênis, camiseta e o conjunto doritos X coca-cola nas mãos, até aí normal, a mocinha comeu todo o salgadinho e tomou seu refrigerante. Ao terminar o croc-croc, ela amassou o saco de salgadinho e enfiou na boca da garrafa, lembro que quando ví isso pensei:

__ “Que educadinha", guardou o saquinho pra não fazer sujeira..

Eis que a bela mocinha, até então educada, me olhou e ameaçou dizer alguma frase, eu fiquei só observando, quando de repente ela me olhou novamente, esticou o braço me entregando a garrafa pet e me disse:

__"Moça, joga fora pra mim?"

Eu, simplesmente respondi: __" Más não tem lixinho aqui".

No que ela me diz: __ "Não é no lixo, é pra jogar pela janela"

A minha reação naquele momento foi conter minha enorme vontade de meter um soco na cara dela, ajeitei meus materiais da maneira que eu podia, peguei a garrafa das mãos dela e disse:

__" Pode deixar, quando eu chegar em casa, jogo no lixo"!

Guardei a garrafa dentro da minha bolsa, muito decepcionada e, ao olhar pro lado consegui observar a cara das pessoas que estavam ao meu redor, saudando-me de uma maneira como nunca pensei que aconteceria por uma coisa que no meu ponto de vista deveria ser normal, ou será que agora, jogar lixo no lixo já é coisa de gente careta?
A cara da moçinha foi de total indiferença, a sujeita nem ao menos abriu a boca, apenas ficou com a cara desconfiada, tentando entender o porquê eu havia guardado a garrafa de coca-cola vazia dentro da minha bolsa.

Eu, justo eu que sempre fiz questão de por a boca pra fora do carro e xingar em alto e bom som qualquer pessoa que eu visse jogando lixo nas ruas, me vejo numa situação dessas.
Hoje vivemos nessa pressão, com esse medo das conseqüências que teremos, ou que nossos filhos e netos terão, com tamanha destruição que já foi causada no planeta, isso tudo por que colhemos o que nós mesmos plantamos.

Na época do meu colegial não se falava tanto sobre a preservação do nosso planeta, o sapato começou a apertar de alguns anos pra cá e hoje eu tenho certeza de que os estudantes têm esse assunto muito mais presente em suas aulas do que eu tive, mas me deixou muito triste ver essa "animalzinha" mostrando que infelizmente sempre haverá pessoas que nunca vão aprender, ou se vão, esse processo vai ser bem demorado.

Espero que ela tenha deitado sua cabeçinha no travesseiro naquela noite e tenha sentido um pouquinho, apenas um pouquinho de vergonha de ser uma dessas pessoas, que insistem em querer caminhar sempre pra trás.

Lamentável nos dias de hoje se deparar com atitudes desse tipo.



















Polly

4 comentários:

  1. esses porcos não sabem o quanto se prejudicam fazendo isso...mas sua atitude foi ótima!

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  2. Acho que as coisas tendem a melhorar sim... porque, na nossa época, tudo girava em torno das DSTs... a geração da década de oitenta estava com o cu na mão por causa da Aids, e a da época de noventa só falava em camisinha... hoje, dar uma trepadinha sem capa rola, mas rola com um medo que sinceramente não é fácil de aguentar... é melhor colocar a bixiga e correr pro goso... Agora chegou a juventudade ambientalistas, fruto de uma realidade começada com a ECO 92... um movimento bom, importante, mas sem a devida representatividade da época... os Eco Chatos viraram eco-legais... e tudo tem se desenvolvido por aí...

    Uma coisa que as vezes me constrange e quye é preciso ser dito nessas linhas é o seguinte... a porra do Rio não inunda por causa da bosta da garrafinha... a culpa não é só da desgraçadinha que perdiu pra vc jogar pra fora... Sim... a garrafinha tem um efeito, mas a culpa não é toda do povo chucro, porque assim fica fácil: É só meter uma bomba e acabar com essa raça... A forma como a cidade cresceu, a forma como a prefeitura administra o saneamento básico, o recolhimento de lixo, os aterros... está aí o problema... As políticas públicas destinadas para o saneamento são menos importantes, porque a porra do córrego é caro demais pra fechar com engenharia tecnológica... agora a ponte espraiada pode ter toda a tecnologia possível, impossível e inimaginável... entende aonde eu quero chegar com o que estou dizendo?

    As pessoas gosta de culpar o povo... mas a culpa não é só do povo... O cara que sai do trem entra no metro... o mesmíssimo cara.... o trem ele derruba, mas o metro não... o conceito de limpeza, principalmente para evocar as massas tem que ser pelas vias do exemplo público... talvez essa moça viva com esgoto a céu aberto e lixos esparramadas pelas ruas... (talvez não, estou advogando contra) ... ela não tem exemplo público pra nortear o pensamento dela...

    A sua atitude foi a verdadeira atitude de uma mulher... mesmo que sem ter metido a boca no trambone... por que tem hora que é dificil pra kcete ser sincero... mas vamos dar nomes aos bois.... vamos dar aos césars o que são dos césars... uma boa parte da culpa está na gravata... e é aí que a coisa fica nebulosa...

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  3. Olha ouvi uma frase em uma propaganda esses dias que achei fantastica.... Acho que era do Itaú:
    - Que mundo estamos deixando para os nossos filhos? e que filhos estamo deixando para o nosso mundo??

    Acho que ainda falta muita coisa ainda para resolvermos... Mas temos que começar a dar educação para o povo né... Educação ligada a Cultura... Temos que ensinar esse povo a pensar... Parar de dar tudo resolvido... temos que parar de mostrar as verdades e deixar que cada um descubra a sua própria.

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  4. Me lembrei de algo parecido.

    Na minha época de Office Boy (nossa, que saudade passar por baixo da catraca para jogar fliperama depois. rs) eu voltando do centro de SP após um dia de trabalho nos bancos e cartórios de lá, num daqueles dias chuvosos e nebulosos...

    Peguei o Terminal Sto Amaro bi-articulado, estupefado, ensardinhado de gente, saíndo até pelo ladrão...
    Como de costume em dias de chuva o "bumba" parou na 23 de maio e de lá não saia, a chuva parecia não ter fim, quando passamos ali pelo Hospital e centro da AACD, a parte baixa estava submersa n'agua...

    Neste momento, duas Tias, seus sobrinhos e filhos sacaram o "Kit pobre de Alimento no busão". (Salgadinho chulé x suco quente tampico, ou algo assim)
    No meio da conversa um vira para a outra e diz... "Lá na Bahia não acontece essas coisas, chover e alagar tudo..."
    Em seguida a Tia pega todo o embrólio e resquísios do Kit e como uma flexa, abre a janela rapidamente para não se molhar e arremessa todo o lixo pela janela a fora...

    Meu sangue subiu, mas antes mesmo de eu abrir a boca, um Senhor que estava mais próximo disparou... "Por**, a Sr acaba de reclamar de enchente e joga esse lixo todo pela janela, pelo amor né..."

    Realmente, além de fazer nossa parte, temos que ser ativos e cobrar uns aos outros.

    Concordo com o Rogério, que disse ter uma outra parte muito mais importânte, mais complicada e problemática que são aqueles que estão nos cargos de liderança do estado e cidade... Mas... ai é um outro contexo, bem mais complexo e não temos acesso no dia a dia para cobrar, precisaria um grande movimento.

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